Oi Oj’Eu Ua Pastor Cantar

Oí oj’eu ua pastor cantar,
du cavalgava per ua ribeira,
e a pastor estava senlheira
e ascondi-me pola ascuitar
e dizia mui bem este cantar:
“So lo ramo verd’e frolido
bodas fazem a meu amigo
e choram olhos d’amor!”


E a pastor parecia mui bem
e chorava e estava cantando;
e eu mui passo fui-me achegando
pola oír e sol nom falei rem;
e dizia este cantar mui bem:
“Ai estorninho do avelanedo,
cantades vós e moir’eu e peno
e d’amores ei mal!”


E eu oí-a sospirar entom
e queixava-se estando com amores
e fazia guirlanda de flores,
des i chorava mui de coraçom
e dizia este cantar entom:
“Que coita ei tam grande de sofrer,
amar amigu’e nom ousar veer,
e pousarei so lo avelanal!”


Pois que a guirlanda fez a pastor
foi-se cantando, indo-s’em manselinho;
e tornei-m’eu logo a meu caminho,
ca de a nojar nom ouve sabor:
e dizia este cantar bem a pastor:
“Pela ribeira do rio
cantando ia la virgo,
d’amor:
Quem amores á
como dormirá,
ai bela frol?”